Velocidade de Cruzeiro
Subia as escadas e vi que me olhava, cabelo preso em rabo-de-cavalo,
fato de saia sobre o joelho e casaco azul escuro… Confirmei que era pra mim que
ela olhava, quando a olhei nos olhos desviou o olhar… Ao entrar cumprimentei:
- Boa tarde! … Senti nas narinas
aquele perfume… O aroma daquele perfume que eu conhecia tão bem!... Sem enganos,
soube que aquele perfume era ‘Gucci’…
E os lábios levemente pintados, davam-lhe um ar agradável e cativante.
- Boa tarde, tenha uma óptima
viagem!
Sentei-me no lugar reservado e
esperei que a viagem começasse. Antes de a viagem se iniciar passou pelo
corredor para verificar se tudo estava em ordem com os passageiros, são
procedimentos que fazem parte do seu trabalho. Recostei-me no banco e esperei
aquele momento, o momento que me dá imenso prazer e a adrenalina no meu corpo
sobe… O aumentar da velocidade do aparelho e depois quando inclina o nariz para
o céu e sobe no espaço… Sinto prazer nesse momento, enquanto sobe e faz as
manobras para o rumo e coordenadas certas até estar em velocidade de cruzeiro,
depois deixo-me relaxar até a viagem terminar
Subia as escadas de acesso à
cabine com olhar distraído, vinha na frente dos outros passageiros e assim,
pude olhar aquele homem que chegava, não que me olhasse directamente, mas senti
algo em mim e quando me olhou parece que me viu até ao mais profundo do meu ser,
acho que nunca me tinha acontecido, olharem-me e sentir-me como que despida de
corpo e alma, foi assim que me senti, parece que viu através dos meus olhos que
eu não consegui desviar dos olhos dele a tempo, nunca me aconteceu, eu que
sempre consigo ter olhar distante dos olhares indiscretos ali não consegui e
bastou aquela fracção de segundo para eu ter vontade que aqueles olhos me
olhassem novamente, eu também queria vê-los outra vez e foi isso que me levou a
seguir disfarçadamente pelo corredor, senti que dele emanava um perfume,
discreto mas agradável, ao passar vi os olhos dele e as minhas pernas tremeram,
recostado no banco como que distraído mas os nossos olhares cruzaram-se…
Até à velocidade de cruzeiro
mantive-me no lugar que tenho que ocupar, depois atender os passageiros e
servir o que está planeado para a viagem, esperava essa altura para poder
passar outra vez ao pé daqueles olhos e sentir outra vez o perfume suave e
inebriante. Entre tantas pessoas, passageiros e colegas, acho que ninguém se
apercebia que entre os nossos olhos havia linguagem, uma linguagem agradável
para nós, desejei saber mais o que aqueles olhos escondiam, mas não conseguia,
pelo pouco tempo a lê-los e porque parece que só deixavam ver o que queriam mas
pude perceber que eles também queriam saber de mim, que havia desejo de
olhar-me e talvez descobrir o que existia para lá do que viam… Passei em mente
o que estava no meu corpo debaixo da roupa visível e soube que havia desejo de
me ver, uma sensação agradável percorreu-me ao saber que causei desejo naquele
homem e o desejo que ele descobrisse para além da roupa exterior foi intenso,
sabia que não o ia desiludir… Mas ali?... Impossível!... E quando a viagem
terminasse jamais seria… Que fazer?... Queria que ele me visse, sim!... E
queria vê-lo também e descobrir mais além daqueles olhos… Mas que fazer?...
Tudo ia terminar com a viagem…
Na pausa entre os afazeres
estava ao fundo da cabine, seguia-mos a mais de dez mil metros de altitude em
velocidade de cruzeiro a mais de oitocentos quilómetros por hora quando o vi
aproximar-se, os lavabos eram ali ao lado, abriu a porta enquanto me olhou e
entrou, mas deixou a porta demasiado tempo aberta que onde me encontrava tapava
a visibilidade… Uma loucura assaltou-me e sem pensar entrei quase de rompante e
o meu corpo ficou colado ao dele, a porta foi fechada e ficamos os dois naquele
espaço exíguo, assim, corpos colados… Agora sim, olhos nos olhos ali bem perto
pude ver o desejo intenso que aquele olhar brotava e eu senti-me bem, não
queira saber de mais nada e mostrei-lhe com o meu olhar o desejo que tinha por
saber… Aquele perfume embalou-me, e, sem me aperceber os olhos dele descobriram-me
depois das mãos dele terem aberto a blusa e me acariciarem a pele… Sem pensar
deixei-me levar, sem saber como, a minha saia subiu quase até à cintura e só
tomei um pouco a consciência quando uma das minhas pernas rodeou-lhe as ancas e
o senti dentro de mim… Com a boca abafou-me um grito que inconsciente ia
soltar… Até os nossos corpos se separarem o beijo que sentia era suave mas
intenso de desejo, eu dava e sentia… E ver o desejo por mim nos olhos daquele
homem fazia-me bem… Era tão bom!...
Sair não seria fácil sem
alguém se aperceber, mas ele com naturalidade saiu mas antes disse-me ao ouvido,
– Saio e se alguém estiver perto volto a
entrar como que tenha necessidade, se não, vou e fechas a porta… Fechei a
porta e compus-me… Ao sair tentei ser natural, acho que consegui, pois não vi
olhares indiscretos…
Até ao fim da viagem foi um
martírio!...
À porta aguardava que todos os
passageiros saíssem e ele saiu também.
- Boa tarde, obrigado
pela viagem agradável.
- Boa tarde, obrigado por
viajar connosco.
Que loucura me aconteceu!!!...
Mas, não estou arrependia!...
Eu gosto de usar conjuntos
condizentes, mas agora este meu ficou sem par, ele levou-me a peça rendada cor
marfim… “SAFADO!!!...” Logo que puder
vou telefonar-lhe para me devolver essa peça de roupa ou para vir buscar a que
ficou no meu corpo a cobrir os meus seios, não quero que o conjunto fique
separado, deixou o número do telefone aqui junto do meu coração, tinha baixado
a alça do meu soutien e com aquela caneta preta que trazia no bolsinho da
camisa escreveu no meu seio…
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